segunda-feira, 23 de maio de 2011

Trabalho de Literatura

Denise Lisbôa 3 37.

  • Cenário e substrato social:

Desenrola-se numa região não especificada, mas identificável como a das obras anteriores do autor: o mundo da sua infância e da mocidade.

As cenas enquadram-se na moldura de altos morros e vastos horizontes, amplos rios margeados de brejos, campos extensos de muito pastores e escassa lavoura, fazendas enormes.

Ávida corre numa rotina secular, regulamentada por vetustos códigos de honras que determinam inflexivelmente os deveres do parentesco, da amizade e da hospitalidade, assim como os da inimizade e do ódio.

Um cenário rural com uma casa próxima do rio. Seguem a sua rotina de vida sem novidades até a chegada da canoa.

Ex.:

...''Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre''...

...''Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente''...

...''O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável''...

...''Onde o homem a rotina da família passa a ser diferente, com o pai vivendo na canoa''...

Ex.:

...''Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada''...

Mas com o tempo, passaram a tentar se acostumar com o pai mas nunca a entende-lo.

Ex.:

...''A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade''...

  • Personagentes:

Mais que personagem e menos que protagonista, pertencem a duas categorias, a de loucos e a de crianças.

O homem “normal” tem seus instantes de exaltação. A loucura enche os vazios da vida, solta fogos de artifício, escancara os horizontes.

A história mostra que o filho do homem da canoa, era uma criança, mas que não teve muita infância devido os atos do pai.

Ex.:

...''Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo''...

Assim podemos descrever os loucos, com o homem que deixou sua vida para viver na canoa.

Ex.:

...''O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso''...

  • Enfoque e perspectiva:

Grau de participação do invisível do narrador.

Constante variação da perspectiva confere descomunal riquezas de cambiantes, muitas vezes um elemento suplementar de mistério. Algumas segundo toda a evidência, têm raízes em experiências pessoais do autor e envolvem sua participação direta, ainda que não muito intensa .

O conto passa na 1° pessoa. E há vários personagens na história só para ver o homem na canoa , para ajudar a família e para tentar entende-lo.

Ex.:

...''Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada''...

  • Estrutura:

O conflito esperado deixa de cumprir, o desfecho realiza-se no íntimo das personagens.

Armar um mistério no começo da narrativa para no fim satisfazer, por meio de uma explicação minuciosa, as exigências de um leitor raciocinante.

Prefere esconder a explicação no título ou entre parênteses.

No título um mistério, mas que no desenrolar da história descreve a outra margem descrita, que seria a nova vida que o homem levou na canoa. A história busca uma resposta do motivo de uma pessoa largar a família para viver no rio, e que não desiste nem por um neto.

Ex.:

...''Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados''...

...''Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais''...

O seu filho se oferece para ir no lugar do pai no rio mas não teve coragem e foge.

Ex.:

...''— "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.

Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado''...

  • Choque estilístico:

Consistiam em deixar as formas, rodeios e processos da língua popular infiltrarem o estilo expositivo e as da língua elaborada embeberem e linguagem dos figurantes.

Daí um estilo personalíssimo, que das de caráter regionalístico se alastrou por toda de ficção do nosso autor.

Pedaços e traços de pessoas vivas constroem as suas personagens; fundindo cenas e acontecimentos registrados pela própria memória, deles tiram episódios e enredos.

Ex.:

..."Cê vai, ocê fique, você nunca volte!"...

... ''Agora, o senhor vem, não carece mais''...

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